4.5.11

Strip Tease (Martha Medeiros)

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás.
Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis.
Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou.
Ele perguntou o que poderia fazer por ela.
A resposta: sem preliminares.
Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara:
" Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade.
Você é a pessoa mais especial que já conheci.
Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas,
mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade.
Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto ".
Então ela desfez-se da arrogância:
" Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem.
Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca
é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto,
cada deslumbramento que tenho é com você que sinto.
Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado:
" Eu beijo espelhos, abraço almofadas,
faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento,
e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes,
como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou ".
Retirava o medo:
" Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém
que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe,
sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei ".
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua:
" Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim.
A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito,
que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil.
Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto,
e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui ".
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

7.4.11

De repente 30

E então que os 30 anos chegaram, assim meio de repente... Balzaquiana? Só se for uma balzaca com Síndrome de Peter Pan. A eterna criança, aquela que não parece envelhecer nunca.
30 anos, com carinha de 25, é o que dizem por ai.
E se hoje estou calçando All Star, é só por protesto ao sistema, de que as trintonas devem usar sapatos de salto alto.
Lá aos 10, 15 anos, quando pensava em ter 30 anos, imaginava uma vida totalmente diferente da que tenho hoje. Bem estruturada, meu espaço, outra cidade, um companheiro. E cachorros, porque sem família, não viveria sem eles.
E hoje estou aqui, com 30 anos. Um tanto desmotivada profissionalmente, mas "quem aqui nunca né, amigo?", sem meu espaço, sem companheiro, na mesma cidade de sempre. Com família, a mimadinha da casa. E sem cachorros, porque mamãe não quer.
Mas nunca na vida, eu imaginei chegar aos 30 anos com essa fome de viver, mesmo sempre achando que fosse morrer cedo. E também, nunca imaginei que minha vida fosse sempre tão bem pautada por essas amizades que me completam a alma.
Nem ontem imaginei que acordaria hoje, no dia dos meus 30 anos, com o celular recheado de sms, com a caixa de emails cheia, com meu mural do facebook lotado de recados. Que receberia tantas ligações já de manhã cedo.
E se minha vida sempre teve amizades fortes e duradouras, que ótimo. Mas 2010 e 2011 me trouxeram lindas e novas amizades que já nem vivo mais sem.
E meus 30 anos chegaram, assim de repente, mas tão doce, e tão cheio de doces e mimos, que adoraria que os 31 viessem assim desse mesmo jeito, e logo.